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Sexta Feira, 26 de Abril de 2024

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ENTREVISTA: O abuso pelo olhar da vítima

Após anos, Tainara relata como passou de vítima para culpada, aos olhos da sociedade

14 de Abril de 2021 as 12h 49min

Mulher de coragem! Tainara conta sobre abusos – Foto: Arquivo pessoal

CRISLAINE MOLOSSI

Acadêmica de Jornalismo

 

Aos 16 anos, Tainara Kosloski foi sequestrada pelo seu ex-namorado e levada para um local de mata, aonde além de abusos sexuais, sofreu também abusos psicológicos e físicos. Com muita luta e frieza, a jovem conseguiu com que o suspeito a levasse até o hospital. De fato, foram tratados os ferimentos físicos, pois os psicológicos a perseguem até os dias atuais.

Por ser menor de idade, o suspeito pagou pelos seus atos com trabalho comunitário. Ela teve que lidar com a sociedade, enquanto o suspeito somente com a limpeza de terrenos.

“A justiça infelizmente me tirou da posição de vítima!”, diz a jovem que explica como passou de vítima para a culpada, além de como o julgamento da sociedade lhe afetou, e como o apoio de pessoas próximas foi fundamental em sua caminhada.

Com 19 anos atualmente, ela é formada em técnico em enfermagem, reside em Tapurah e conta nesta entrevista exclusiva o que passou e como trata deste assunto.

 

DIÁRIO DO ESTADO: Quando decidiu que estava pronta a falar abertamente sobre o assunto?

TAINARA KOSLOSKI: A maioria das pessoas sabem como é cidade pequena, se eu não falasse iam falar e especular e inventar coisas até não querer mais, eu sempre fui muito desenvolta então preferi que soubessem e falassem pela minha boca do que por histórias inventadas.

 

DE: Qual foi o momento em que você percebeu que seu antigo parceiro lhe fazia mal?

TK: Quando eu terminei com ele um pouco antes do ocorrido, mas ainda nos falávamos e eu dependia emocionalmente dele, então era fácil ser manipulada e não ver as coisas ruins. Assim que tudo aconteceu eu tomei conhecimento do quão tóxico era.

 

DE: No dia do crime, você foi levada até um local de mata, após ter sido abusada sexualmente, o suspeito a tentou enforcar até a morte, no momento, o que passava em sua cabeça?

TK: Que eu era forte e precisava lutar, antes do abuso sexual eu fui enforcada, e então espancada e agredida com uma faca, e quando eu estava sendo enforcada eu vi minha vida passando pelos olhos e vi uma luz forte, e então eu voltei e gritei socorro, levei os socos logo em seguida, e então eu resolvi lutar pela minha vida.

 

DE: Você entrou e luta corporal com o suspeito?

TK: Sim, após ele me bater ele me levantou e tentou novamente me enforcar com um mata-leão, e então eu me defendi de todas as formas possíveis não só corporalmente, mas usando da persuasão.

 

DE: Ao seu ver, o crime foi premeditado?

TK: Com toda a certeza, o veículo não era dele, havia cordas dentro do veículo, gasolina, e a faca estava escondida no veículo também, o local de mata foi muito bem escolhido, ninguém me encontraria.

 

DE: Como conseguiu ir até o hospital?

TK:  Eu convenci o suspeito a me tirar do meio da mata, prometendo a ele não denunciar, ele me levou até a casa dele me fez tomar um banho, e então me levou até o hospital.

 

DE: O suspeito foi preso ou respondeu pelo crime?

TK:O suspeito era menor de idade e ficou apenas 5 dias preso e prestou serviços comunitários depois de um tempo, ao lado da minha casa, uma limpeza é o suficiente para pagar pela quase perda da minha vida.

 

DE: Como lidou psicologicamente com o acontecido? Quais foram as ajudas que você teve?

TK: Bom, eu reagi de forma positiva em relação a maioria das mulheres. Eu guardei tudo para mim mesma e fiquei fria. Eu tive a ajuda da família e pelo SUS oferecido uma psicóloga, que foi a meu ver antiética ao ir até a escola falar comigo sobre o assunto, mesmo após muitas ligações da minha mãe atrás da assistência.

 

DE: Ter o apoio de sua família foi fundamental no processo?

TK: Extremamente necessário, se não fossem eles eu poderia ter reagido de outra forma e o meu quadro psicológico piorado, o apoio dos meus amigos foi fundamental também, cuidaram de mim e me distraíram mesmo indo para escola machucada e com maquiagem para esconder o roxo dos olhos.

 

 

DE: Quando o fato aconteceu, você tinha outro namorado, ele sempre esteve ao seu lado? O apoio dele foi necessário para o processo?

TK: Sim, eu estava começando a conhecer o Maicon e ele realmente esteve ao meu lado e não quis fazer perguntas para mim, até hoje ele não sabe de nada praticamente, mesmo após 3 anos do ocorrido. E sim, o apoio dele foi muito importante, porque ele era o único homem com quem eu me relacionava e se eu não tivesse o apoio dele eu não me sentiria confortável em confiar nele.

 

DE: As pessoas duvidam da sua palavra? Como se sentiu perante a sociedade?

TK: Sim, até hoje existem pessoas que duvidam, inclusive pessoas que me viram no dia do ocorrido hoje ajudam a dizer que eu inventei tudo. E para a sociedade eu me senti uma sobrevivente ao mesmo tempo uma estatística! Eu não abaixava minha cabeça para comentários e quando voltei a escola onde o corredor eram só fuxicos eu perguntei se perderam algo na minha cara, e então se quiserem saber de algo perguntassem a mim.

 

DE: Após anos do acontecido, você sente rancor ou raiva?

TK: Não. Eu não sinto nem rancor nem raiva, eu perdoei para não fazer mal a mim mesma, o que eu sinto é um ressentimento onde ele não pagou pelo feito de maneira justa, a justiça infelizmente me tirou da posição de vítima!

 

DE: Qual mensagem você deixa para as meninas que já passaram ou estão passando pelo mesmo, e também para a sociedade que desacredita das vítimas.

TK: Minha mensagem é não tenham medo de virar a página.

Escute as pessoas quando elas dizem que seu cônjuge não é saudável, sejam fortes e corajosa. Somos a maior estatística do mundo após o Covid, então nós devemos nos unir para nós defendermos, se você está passando ou passou por isso, saiba que não está sozinha. E que eu garanto, um dia vai passar, não 100%, até hoje interfere em certas coisas, mas passa e você cresce e supera. Seja forte e corajosa.   

 

 

 

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