IMEA PREVÊ: Maior oferta de bezerros, exportações aquecidas e arroba valorizada em 2021

Pecuaristas precisam ficar atentos aos custos de produção que tendem a se manter elevados

10 de Janeiro de 2021 as 07h 37min

DA REPORTAGEM

Um ano com saldo positivo, apesar dos elevados custos de produção e dos impactos causados pela pandemia – especialmente durante o primeiro semestre. Assim foi 2020 para o pecuarista mato-grossense, que – diante dos preços recordes dos grãos – diminuiu em 13,87% a quantidade de bovinos confinados.

O número acumulado de abates entre janeiro e novembro também foi menor: recuou 8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Reflexo da baixa oferta de animais que – aliada à forte demanda internacional – sustentou o valor da arroba. As exportações, aliás, foram o grande destaque do setor em 2020. Os embarques até novembro chegaram a 452,66 mil toneladas, avanço de 19%.

“Esse ano a gente viu que as exportações foram um grande player importante para a sustentação aqui do mercado das cotações e esse ano a gente viu que da produção a gente exportou 34%. Se a gente for observar, no ano passado a gente exportava 28%. Então, realmente a gente exportou bem mais e foi muito importante num cenário de baixa oferta, diante da pandemia, com cenário da população com renda bem fragilizada, como as exportações foram importantes e o quanto a gente aumentou o volume escoado no mercado internacional. E a grande responsável por isso foi a China, que aumentou 99% no volume importado por eles da carne mato-grossense, representando 56% do share do destino da nossa carne”, explica Marianne Tufani, analista de pecuária de corte do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.

De acordo com o Imea, os embarques externos aquecidos fizeram com que o preço da arroba do boi gordo batesse recordes em Mato Grosso, atingindo R$ 262,65 em novembro, alta de 51% em relação a igual mês do ano passado. Com o mercado valorizado e a oferta restrita, a retenção de matrizes com foco na cria ganhou força, o que deve refletir na disponibilidade de bezerros em 2021, mas não o suficiente para impactar as cotações, já que a demanda internacional pela proteína deve permanecer em alta.

“Para o ano que vem, a gente já observa o início de uma retenção de fêmeas (até novembro a retenção estava em 17%), e espera-se uma maior oferta de bezerros. No entanto, a expectativa é de que essa oferta ainda não seja significativa a ponto de pressionar as cotações da arroba do boi gordo no ano que vem”, analisa Tufani. Ela reforça ainda que as exportações terão papel fundamental nisso. “Também tem boas perspectivas para as exportações, principalmente para a China. A gente tem um ponto de atenção já que a China já está recuperando o seu plantel (de suínos), o que poderia diminuir um pouco a demanda. Mas ainda assim, para 2021, ou seja, para curtíssimo prazo, a gente não enxerga que ela vá recuar nesse sentido. Então, a gente enxerga ainda boas perspectivas para a arroba, baseada na sustentação das exportações e também da baixa oferta”, comenta.

Quantos aos custos, a analista do Imea estima que eles sigam em patamares elevados em 2021, exigindo atenção e planejamento – especialmente dos confinadores. “Claro que ainda é muito cedo para a gente prever alguma coisa, mas é uma realidade que o produtor tem que ficar atento. Principalmente porque a gente já vê que a safra está com a comercialização adiantada. Então, aquele produtor que não se preparar, não garantir seus insumos, pode de novo ver uma dificuldade nos custos e isso, com certeza, pode prejudicar a sua estratégia para confinamento no ano que vem”.

De olho no futuro, a Tufani também chama atenção para 2022, quando a atividade deve viver um provável início de virada de ciclo. “E uma virada de ciclo para movimentos baixistas, porque a gente observa que uma hora vai vir essa oferta de bezerros e ainda mais daqueles aptos para a recria. Então, se a gente pensar para 2022 uma maior oferta de bezerros para recria, provavelmente pode começar a pressionar as cotações. Ainda mais que este ano, como a cria estava muito atrativa e o recriador ele estava com os custos mais altos, a gente viu que ele realmente teve maior dificuldade e muitos se deslocaram para a cria. Então, além da retenção de fêmeas daqueles criadores, também têm aqueles que mudaram de sistema de produção que podem também contribuir para o aumento de bezerros”, conclui.