MILHO: Mais de 2,5 mi de hectares devem ser cultivados fora da época ideal

Sob nuvens carregadas e tempo úmido, colheita da soja não deslancha no estado

10 de Março de 2021 as 06h 00min

DA REPORTAGEM

É debaixo de nuvens carregadas que a colheita da soja avança lentamente na Fazenda Bertamoni, em São José do Rio Claro. Dos 1,9 mil hectares cultivados com a oleaginosa, apenas 700 hectares foram colhidos até agora. “A colheita está extremamente atrasada. Tem muita soja pronta para ser colhida, mas não conseguimos entrar com as máquinas. Tem dado janelas de uma a três horas no máximo por dia para colher, quando dá. O céu está fechado, o sol não sai. O maquinário está todo parado, esperando o céu abrir para podermos iniciar a colheita da soja e o plantio do milho, que está extremamente atrasado”, relata Cleverson Bertamoni.

A apreensão do agricultor retrata a realidade enfrentada por produtores rurais em todas as regiões de Mato Grosso. Nesta safra as lavouras de soja ocupam mais de 10,3 milhões de hectares no estado. Até a última sexta-feira, dia 26, pouco mais de 52% estavam colhidos, segundo o Imea. Bem menos que os 84% que já estavam colhidos nesta mesma época do ano passado. O ritmo atual também é inferior à média histórica para o período, que é de 69,7%.

Com a colheita da soja atrasada, o plantio do milho não deslancha no estado. Na Fazenda Bertamoni, por exemplo, 800 hectares vão ter que ser semeados fora da época ideal. “Eu tenho um atraso de mais de 50% no plantio do milho. São 50% de 1,6 mil hectares que eu irei plantar, que vão ficar fora da janela. É um risco muito grande para nós. Vamos esperar que o céu abra, mas no momento, não está fácil aqui na região médio-norte”, desabafa o Cleverson.

No Centro Sul do estado, a situação é semelhante. Na Fazenda Helena, em Juscimeira, dos 3,3 mil hectares cultivados com soja, 2 mil hectares vão ser destinados ao milho na segunda safra. O plantio já deveria estar na reta final, mas, por enquanto, ainda está bem longe disso. “A safra começou bem complicada, com seca em outubro. As águas que não chegaram naquela época – no finalzinho do ano passado – estão chegando agora no meio da colheita, atrasando todos os nossos trabalhos. Inclusive o plantio do milho. Hoje, estamos com 50% do milho plantado aqui nesta fazenda, no ano passado estávamos com 90% plantados já”, comenta o agricultor Osvaldo Pasqualotto.

A melhor janela para o cultivo do milho em Mato Grosso terminou em fevereiro. Só que ainda tem muita área para ser semeada. Nesta safra os milharais devem se estender por mais de 5,69 milhões de hectares no estado, um recorde. Até aqui, menos de 55% deste total foram plantados, segundo o Imea. Em 2020, o mês de março começava com quase 92% do terreno semeado. O ritmo atual também é bem menor que a média histórica para o período, que é de 80%.

Com o cultivo de grande parte das lavouras atrasado, a Aprosoja Mato Grosso alerta: o milho semeado fora da janela indicada pelo zoneamento agrícola de risco climático (Zarc) pode ficar sem a cobertura do seguro rural.

“Nós entramos em contato com o Ministério da Agricultura para tentar avaliar tecnicamente se haveria um espaço para a dilação do ‘Zarc’, mas recebemos a resposta formal de que isso não seria possível. Com isso, caso o produtor plante fora da janela indicada pelo Zoneamento, ele corre o risco de não ter a cobertura do seguro em caso de sinistro. Sabendo disso, a orientação é para que o agricultor faça a notificação de agravamento de risco para que ele possa requerer de volta pelo menos parte do prêmio do seguro, sabendo que não haverá a cobertura. Esse é um direito”, conclui Thiago Rocha, consultor de política agrícola da Aprosoja-MT.