A perigosa luta dos atletas contra a balança

Métodos nenhum pouco convencionais colocam a vida de atletas em risco

03 de Julho de 2019 as 00h 00min

KELVIN PAULO RAMIREZ

Colaborador

Que esportes de combate são divididos em categoria de pesos, isso já não é novidade para ninguém. Mas pouca gente sabe a guerra interna de um lutador antes de um confronto em virtude da necessidade de integrarem uma divisão. A luta vem muito antes, e não no combate em si – no dia da grande luta –, ela acontece alguns dias antes.

Apesar do formato da divisão de pesos ser para colocar os oponentes de forma equiparada no quesito força e peso, afim de fazer uma luta justa, sabe-se que os lutadores forçam baixar de categoria para levar vantagem sobre seus adversários, já que eles perdem peso para bater o limite de uma divisão ‘X’ no dia da pesagem, mas em sequência iniciam um processo de recuperação, voltando assim para seu peso natural até a hora da luta.

Pode parecer um absurdo, mas é rotineiro presenciarmos histórias como essa, onde o atleta tem que cravar o limite da categoria, mas antes é necessário fazer um corte brutal de 15 kg até o momento.

Esse corte repentino pode trazer grandes problemas para o atleta. É comum presenciarmos lutadores indo até a balança carregados por membros de sua equipe, ou em casos da luta ser cancelada devido a problemas de debilidade funcional do atleta.

“Se formos analisar como nós mesmos, o simples ato de sentir fome já nos deixa mais irritados e tristes. Com o lutador não é diferente. Muitos acabam potencializando esse sentimento, aflorando suas emoções ao máximo. Ao mesmo tempo que alguns conseguem driblar esse processo, com outros a coisa é muito diferente”, explica o psicólogo Robson Rocha.

Vivendo na pele todo o sacríficio de um atleta de alto nível, a lutadora do UFC, Poliana Botelho, relembrou a época que perdia cerca de 19kg para atingir a categoria até 52kg (peso-palha). Com uma dieta regrada, Botelho salientou o fato de iniciar a dieta durante os treinamentos, deixando para perder apenas um pouco durante a semana da luta. “É muito puxado durante o ‘camp’ (período de treinamentos pré-luta) inteiro e não só na última semana. O corpo ficava bastante debilitado, era bastante sacrificante, relata a atleta.

Atualmente na divisão dos moscas (até 57kg), em virtude de problemas na balança, Poliana não teve outra saída que não fosse uma subida de categoria. A atleta da Nova União afirmou que problemas durante o treinamento em decorrência da desidratação afetaram sua performance no octógono. “Não luto mais nessa categoria (peso-palha) por causa disso. Acho que atleta não tem que ficar perdendo muito peso assim, pois acaba perdendo rendimento nos treinamentos e na luta pode ficar afetado, foi o que acabou acontecendo comigo na minha última”, destacou Poliana.

Ainda que existam rumores para uma mudança, é difícil enxergar uma solução para essa batalha fora do tatame, octógono, cage. O fato de levar vantagem sempre estará em pauta central em qualquer equipe, por isso, o caso de baixar drastiscamente o peso e levar vantagem sobre o adversário dificilmente deixará de ser uma alternativa. Uma alternativa para frear os incidentes, segundo o jornalista especializado em MMA, Edison Ramos, é a mudança da pesagem para o dia da luta, e não um dia antes. “A perda brusca de peso é muito prejudicial, eu acho que se a pesagem fosse na mesma noite da luta, o atleta precisaria ser consciente, atencioso e teria um poder de armazenamento maior para a hora da luta”, concluiu Ramos. (Kelvin Paulo Ramirez é acadêmico do 5º semestre de Jornalismo)