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Quinta Feira, 25 de Abril de 2024

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Crônicas de uma pandemia: Cine Birigui

09 de Setembro de 2021 as 06h 52min

O sol é lindo finzinho da tarde, as ondas do mar, o vento fresco do oceano, gaivotas voando. Toda energia na juventude em pequenos maiôs e biquínis, pranchas de surfe, e toda sorte que comidas e bebidas que estão à venda. Ah, como as crianças brincam na areia, e cachorros de ruas, sabe, aqueles de cor caramelo, vivem a correr e latir.

Pensar que perdi tudo isso. Entrava às oito horas na repartição, sempre fazia hora extra. Meu velho pai me ensinou que se fizermos algo, que se faça bem feito. Entre prefeito, sai prefeito, minha repartição era sempre exemplo de trabalho e dedicação.

Máquinas de escrever não paravam, secretárias pra lá e pra cá. O café sempre quente, forte. Terno feito sob medida no alfaiate, tudo nos conformes, às 18 horas pegava o bondinho para casa.

Quando me aposentei recebi uma caneta tinteiro, linda, folhada a ouro. Um bolo de padaria, tapas nas costas, sorrisos e abraços. Será que é só isso a vida: nascer, estudar, trabalhar, casar, opa, já falo de meu casamento.

Um vazio tomou conta de mim. Diz-se que quando Buda atingiu o puro êxtase, a figueira onde ele estava meditando iluminou-se, com a beleza de sua aura e paz interior.

Comigo aconteceu o oposto. Tudo ficou sem cor, um aperto no coração, achei que iria enfartar, falta de ar, uma raiva incontrolável. Meus leitores, dizem que homem não chora, mas nessa chorei copiosamente, queria morrer, desaparecer.

Bem, disse que falaria de meu casamento, pois bem, que posso dizer, foi curto e tedioso. Casei-me com Bianca, que trabalhava na repartição ao lado da minha. Foi tudo tão mecânico, sem graça, mas estava com 35 anos, e ela na casa dos 30.

Foram cinco anos de tédio e brigas. Na cama, só ‘papai e mamãe’. Novelas no rádio, dormir cedo, enfim, broxante. Veio o divórcio, segui a vida, sem filhos ou amores. O xadrez na praça era um alívio das tensões, e as moças de vida fácil, foi o mais próximo que tive de um relacionamento, que decepção.

Aposentado, e se rumo, resolvi ir atrás do meu amor de adolescência. Na minha cidade natal, Birigui, lugar pacato, desses que parece que o tempo parou, pois até telegrafo, trem e charretes ainda são comuns.

Ela chama-se Lolita, mas para mim sempre será Nina. Sempre depois do colégio, íamos ao cinema, na matine. Víamos faroestes, musicais, não perdíamos uma sessão.

E numa dessas tardes, num filme de aventura espacial, peguei na sua mão, ela segurou forte a minha, logo os beijos começaram, assim eram todas as tardes. Achava que a vida ia ser sempre assim, com Nina no escurinho do cinema, era o céu.

“Como será que ela está hoje?”. A imaginação fervilhava. Na padaria, consultei uma lista telefonia, e bingo, lá estava seu nome e endereço. Liguei, alguém atendeu. Voz de mulher, mas desliguei. Achei melhor ficar calado.

Chego na casa, aperto a campainha, uma senhora atende, pergunto por Nina, ops, Lolita. Ela diz que é ela. Apresento-me. Entro para um café, passo a tarde jogando conversa fora. Vamos ao cinema, e sim, o sol é lindo finzinho da tarde.

Charles Bukowski: A vida pode ser boa em certos momentos, mas, às vezes, isso depende de nós.

EDUARDO FACIROLLI É FILÓSOFO

Fonte: EDUARDO FACIROLLI

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