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Entenda por que debate entre clubes e FPF esbarra em jogo duro do MP
03 de Fevereiro de 2024 as 11h 21min

O duelo entre Palmeiras e São Paulo, neste domingo (4), às 15h, em Belo Horizonte, pela Supercopa do Brasil, valerá mais do que o título que um dos clubes vai conquistar. Espera-se que a partida seja a faísca para reacender o debate sobre a medida que recomenda a realização de clássicos em São Paulo apenas com torcedores do time mandante.
O Mineirão estará dividido, com torcedores alviverdes de um lado, tricolores de outro. Algo que não acontece em São Paulo desde 2016, quando episódios de violência em série levaram o poder público a impedir a presença de visitantes nos jogos entre Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos – restrição despois estendida também a Guarani e Ponte Preta.
No último dia 19, a Federação Paulista de Futebol (FPF) reuniu em sua sede líderes das maiores torcidas organizadas de Palmeiras e São Paulo. Discutiram o esquema de segurança da Supercopa em Minas Gerais, e os torcedores ouviram o recado: os cartolas esperam que seja um jogo sem confrontos, o que lhes daria um bom exemplo numa campanha contra a torcida única, um desejo da federação, dos clubes e das organizadas.
Esse plano, porém, esbarra na rigidez do Ministério Público paulista, que se escora em números para renovar, todo ano, a recomendação para que os clássicos sejam disputados sem a presença de adversários nas arquibancadas.
Membros da promotoria são enfáticos: não há espaço para esse debate agora, nem num futuro próximo. O receio persiste principalmente com relação ao deslocamento das torcidas em dias de clássico e com confrontos que possam surgir caso dois grupos rivais se encontrem.
Em 2018, dois anos após o início da restrição, dados colhidos pelo 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar, responsável pela segurança de grandes eventos na capital, apontavam queda nos principais índices analisados.
Nos 44 clássicos anteriores à medida, a PM empregou 14.178 policiais na segurança, mais do que os 10.042 dos 44 clássicos disputados na sequência. O público cresceu 33%: passou de 1.073.838 pagantes para 1.425.779.
Foi percebida também uma diminuição no efetivo policial deslocado para os jogos: antes havia um policial para cada 75 torcedores. Depois, esse número passou a ser de um policial para cada 142 torcedores, em média.
Um integrante do Ministério Público foi questionado se há dados atualizados. A resposta foi de que os resultados são semelhantes, mas que se tratam de informações estratégicas que não poderiam ser divulgadas.
RECOMENDAÇÕES
ANUAIS
Não há no estado uma lei que determine a realização de jogos com apenas uma das torcidas. Os casos de violência recorrentes fazem o Ministério Publico recomendar à Federação Paulista de Futebol, a cada início de temporada, que esses duelos aconteçam sem a presença de visitantes nas arquibancadas.
É a FPF que determina, portanto, a restrição a torcedores – que vale apenas nos estádios paulistas e, por isso, palmeirenses e são-paulinos poderão frequentar o Mineirão ao mesmo tempo no domingo.
A recomendação do MP não tem o poder de obrigar a federação a aceitá-la. A entidade esportiva acata, porém, para evitar o risco de ser responsabilizada por incidentes que venham a ocorrer nessas partidas.
A questão foi levada à Justiça ao menos uma vez, em 2015. Naquele ano, o MP recomendou que o clássico entre Palmeiras x Corinthians, o primeiro a ser disputado no Allianz Parque, fosse realizado só com os torcedores do time da casa.
A FPF chegou a aceitar a medida, mas o Corinthians foi aos tribunais e conseguiu uma liminar que permitia a venda de ingressos a seus torcedores. Corintianos puderam comemorar a vitória por 1 a 0 no setor de visitantes da arena na Pompeia. Mas houve brigas dentro e fora do estádio.
Essa demanda só teve uma sentença em 2019, três anos depois de a torcida única ter se tornado regra depois de outro Palmeiras x Corinthians, no Pacaembu, um domingo de 2016 em que uma pessoa morreu e várias outras se feriram em pelo menos três grandes confrontos em São Paulo antes e depois do jogo.
A decisão não avança sobre a restrição aos torcedores, mas sim sobre a validade da recomendação feita pela promotoria paulista – e afirma que não há excesso do Ministério Público em fazê-las. O Corinthians não recorreu. Por enquanto, entre clubes e federação, não se discute a possibilidade de ignorar os pedidos do MP ou mesmo de judicializar a questão novamente.
O plano é recolocar o assunto em pauta. Houve tentativa semelhante no ano passado, quando São Paulo e Palmeiras anunciaram acordo em que emprestariam seus estádios um ao outro quando o Morumbi e o Allianz Parque estivessem indisponíveis. Num primeiro jogo, o Palmeiras recebeu o Santos na casa tricolor, sem incidentes.
Quatro dias depois, palmeirenses emboscaram corintianos numa das principais vias do centro de São Paulo. O confronto enterrou o assunto. A promotoria paulista não tem dado sinais de que pode afrouxar suas posições.
Em 2022, a justiça aceitou um pedido feito pela Drade, a delegacia que investiga casos de violência no esporte em São Paulo, e liberou torcedores a levarem bandeiras com mastros aos estádios. O Ministério Público recorreu e conseguiu derrubar a decisão menos de um ano depois. A ação foi arquivada.
Fonte: DA REPORTAGEM
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