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Jean Chera aponta ‘infância perdida’ e reflete: “O que é dar certo no futebol?
27 de Maio de 2023 as 07h 56min

Em longa reportagem feita pelo Globo Esporte, o meia Jean Chera, falou sobre o retorno aos gramados, pelo EC São Bernardo, e comenta sua “infância perdida”.
Afinal, ainda criança, deixou a vida pacata para pousar no centro do futebol brasileiro da época: o Santos de 2002. Na Vila Belmiro, virou "Menino da Vila" ao lado de Gabigol e Neymar, inclusive com a rotinas parecidas nos compromissos comerciais. Mas há lembranças muito ruins dos tempos de CT Rei Pelé.
Fora a exposição de uma verdadeira estrela, com rotina de atleta profissional enquanto ainda somava as primeiras frações na escola, Jean passou por uma situação de assédio sexual enquanto adolescente. As imagens ainda estão na memória do meia-atacante, que pela primeira vez detalhou o caso, após expor o ocorrido há alguns anos.
“Cara, eu lembro até hoje. Deitei pra fazer abdominal, o Ricardo (David, representante e amigo da família) nem sabe dessa história. Meu short caiu um pouquinho aqui assim, aí o ‘treinador’ passou e falou: ‘nossa, Jean, que coxa gostosa que você tem hein?’. Falei: ‘que isso?’ Levantei e saí na hora”, contou, medindo as palavras para omitir o assediador.
“Cheguei em casa, contei para os meus pais. Meu pai ficou doido na época, transtornado, minha mãe foi quem não deixou ele ir atrás do cara...enfim, foi resolvido e graças a Deus está tudo certo”, acrescentou, detalhando pela primeira vez o ocorrido enquanto ainda sonhava em se tornar um craque do Peixe.
O caso ocorreu pouco tempo antes de Chera deixar o projeto do Santos. Então garoto-prodígio, o adolescente ficou afastado por alguns dias e condicionou a permanência na Vila Belmiro à saída do profissional. Foi o que aconteceu, antes de a carreira dar uma reviravolta meses depois.
Uma proposta muito vantajosa, responsável por até hoje colaborar para o conforto financeiro da família, surgiu para Jean Chera, então tratado como uma revelação potencial capaz de liderar uma geração ao lado de Neymar. A ida para o Genoa, da Itália, marca um “ponto de virada” e alimenta um questionamento que representa o nome Jean Chera mais de uma década depois. Afinal, por que aquela revelação não vingou como profissional?
O jogador evita falar a palavra “arrependimento”. Nem mesmo a ida para a Itália é tratada com ressentimento. Os problemas na Grécia e no Flamengo, locais nos quais o meia diz não ter recebido o combinado, tampouco. O principal ponto da carreira precoce que traz reflexões é o tempo perdido. A rotina na época do Santos tirou algo que Jean Chera não recupera neste momento de retomada da carreira no ABC paulista.
“Dos 8, 9 aos 15, a minha rotina era treinar, ir para a escola e dar entrevista. Eu era famoso na escola, tirava foto com os companheiros de classe, era uma coisa muito doida. Só quem viveu ali comigo para ter noção do que eu passava”, relatou.
“Não tive infância. Não tinha essa de ir ao shopping com meus amigos. Minha infância foi praticamente zero e não quero isso para o meu filho. Quero que ele viva a infância dele. Se for jogar bola futuramente, que vá devagarzinho, no tempo dele”.
O QUE DEU ERRADO?
O antigo garoto tímido do interior de MT atualmente é um pai de família maduro, ciente do que deu errado até aqui em uma carreira marcada pela superexposição desde a infância e uma pergunta que o cerca: “por que não deu certo como atleta?”
Jean Chera enxerga três pontos como fundamentais para, até o momento, não ter vingado: erros de gestão da carreira, que tinha o pai Celso como agente; o excesso de exposição ainda na infância e o próprio comportamento, imaturo muitas vezes em meio aos obstáculos das categorias de base. Uma mistura de fatores que resultou em frustrações.
“Era meu pai quem tomava as decisões, e ele se sentou com muita gente, com muito empresário grande. Ele se sentou com empresário do Cristiano Ronaldo (Jorge Mendes), com maiores do Brasil, Wagner Ribeiro, Delcir Sonda. Ele poderia dar um passo para trás e deixar o empresário tomar a frente das negociações. Ele poderia sair de cena e deixar o empresário tomar as porradas, correr atrás”, afirmou.
“Entendemos hoje que ele errou, assim como errei também. Minha relação de pai para filho nunca mudou, sempre foi a mesma. Pouca gente sabe, mas ele fez só até a quinta série, não teve estudo. Ele vem para um mundo um pouco sujo, com empresário, dinheiro, jogador... Ele se assustou, mas queria sempre fazer algo para o meu melhor”, acrescentou.
"O QUE É DAR CERTO?"
Jean Chera retorna ao futebol dono de si e dos próprios pensamentos. Os sonhos de infância de quem desejava atuar nos grandes palcos são substituídos por um pai que hoje quer atender aos desejos do filho. “O que é dar certo no futebol? É jogar uma Série A? É estar na Champions League, na Seleção? Ou é ajudar a família e se estabelecer financeiramente?”, refletiu.
Financeiramente, missão cumprida. O meia diz ter uma vida confortável pelo dinheiro conquistado ainda como promessa, que resultou em investimentos como as cabeças de gado responsáveis por assegurarem um lucrativo negócio familiar.
Jean quer criar raízes no ABC e fazer do São Bernardo uma espécie de segunda casa. Em campo, como forma de agradecimento, tem o desejo de colaborar para o acesso da A-3 para a A-2. Os sonhos são outros, mais maduros, como julga o próprio.
“Em cinco anos, quem sabe o São Bernardo me venda por uma boa grana para um clube grandes (risos). Em cinco anos, estarei tranquilo e feliz com meu filho, minha noiva, jogando e acho que provavelmente já casado, né? Quatro anos de noivado, acho que vamos querer já”, encerrou Jean, sem filtros sobre o passado e, enfim, dono do próprio projeto para o futuro.
Fonte: DA REPORTAGEM - GE
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