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SINOP 46 ANOS: Os índios Caiabi em Sinop

Pesquisas comprovam que o território hoje pertencente ao município pertencia a este povo nativo

26 de Agosto de 2020 as 08h 00min

As marcas da memória dos Caiabi podem ser encontradas nos artefatos arqueológicos – Foto: Xapuri

TIAGO ALINOR HOISSA BENFICA*

 

Não é difícil perceber que os indígenas são considerados, por muitos “brancos”, ‘persona non grata’ na região e na cidade de Sinop – a exemplo de inúmeras cidades do estado. E o fato dos indígenas já terem ocupado essas terras, levanta a seguinte questão: por que o passado recente indígena é ocultado na região de Sinop?

Até mesmo a Colonizadora Sinop reforça esse estereótipo no documentário comemorativo sobre os 65 anos do Grupo Sinop, no qual há o seguinte relato: “uma das exigências do Incra era saber se não tinha aldeia indígena (...), tanto que a Colonizadora Sinop tem uma certidão da Funai que é absolutamente isenta de indígenas aqui”.

As pesquisas realizadas pelas universidades comprovam que o território hoje pertencente a Sinop e a uma grande parcela do Centro-Norte de Mato Grosso pertencia ao povo Caiabi. As marcas da memória dos Caiabi na região podem ser encontradas nos artefatos arqueológicos (cacos de cerâmica, machados de pedra, pontas de lança, etc), como os achados nas margens do Rio Teles Pires e seus afluentes, assim como dezenas de objetos da arqueologia indígena, localizados durante a construção da Usina Hidrelétrica de Sinop, hoje, guardados no Museu de História Natural Casa Dom Aquino, em Cuiabá.

Aliás, Sinop não possui um museu capaz de guardar objetos de arqueologia de acordo com as regras do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, e o Museu Municipal recebe pouca atenção da Prefeitura. Ou seja, Sinop carece de atenção na área da Cultura, braço importante da Educação.

Há ainda os rastros da memória indígena nos nomes dos rios que ainda preservam a denominação original que os “brancos” deram, aos rios Curupí e o próprio rio Caiabi, que limita os municípios de Sinop e Vera.

O território dos Caiabi não era exatamente estático: no início do século XX, eles foram encurralados pelas frentes de expansão que vinham do sul (próximo a Cuiabá). “Como forma de resistência teriam se dividido tomando diferentes destinos no decorrer dos contatos. Atraídos aos postos fundados pelo antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), os Kaiabi instalaram-se em pequenas aldeias às margens do Teles Pires, em seu médio e alto curso. Enquanto isso, existiram os que preferiram se manter isolados no rio dos Peixes, até a década de 1950”, Francisco Forte Stuchi em sua dissertação de mestrado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2010, A ocupação da terra indígena Kaiabi (MT/PA): história indígena e etnoarqueologia.

É importante frisar que a etnia Caiabi dividiu-se em várias aldeias. Hoje, elas estão localizadas no Parque Indígena do Xingu/PIX, e em Apiacás e Juara.

Os territórios Caiabi localizados fora do PIX resultam da resistência de indígenas que se recusaram deixar a sua terra, para serem transferidos ao PIX, como era o desejo dos irmãos Villas-Bôas, os primeiros administradores do Parque. A criação da maior área indígena em terras mato-grossenses se deu para que os indígenas, presentes no Estado, fossem reduzidos a uma área menor de terras. Isso foi fruto de uma “expedição bandeirante”, promovida pelo governo de Getúlio Vargas na década de 1940, chamada de “Marcha para o Oeste”, para conhecer e ocupar o território então inexplorado do Norte do estado.

 

*Professor da SEDUC-MT, Escola Estadual Professora Edeli Mantovani

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