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Surto vermelho: camisa da Seleção vira delírio anticomunista
01 de Maio de 2025 as 11h 43min

A notícia de que a Seleção Brasileira pode vestir vermelho em sua nova camisa número 2 acendeu um pavio que nem o Maracanã lotado em final de Copa. A histeria nas redes sociais foi imediata: gente berrando que “a Seleção virou comunista”, que “é imposição do governo federal” e até que “estão destruindo os símbolos nacionais”. Uma explosão de ignorância com cheiro de paranoia ideológica.
Antes de qualquer coisa: não, o vermelho não é propriedade privada de nenhum regime político. Tampouco é exclusividade do PT, de Cuba ou da falecida União Soviética. É uma cor. Um pigmento. Um tom que, ironicamente, já cobriu o peito de torcedores apaixonados em 1950, quando o Brasil enfrentou o Uruguai com uma camisa grená improvisada do Bangu, após um erro de logística da CBD. Isso mesmo, o Brasil já jogou de vermelho — e a república sobreviveu.
Antes, em 1917, durante a disputa do Sul-Americano, antigo nome da Copa América, Uruguai e Chile faziam uso do branco, cor de uniforme utilizada como padrão pela Confederação Brasileira de Desporto (CBD), entidade que geria a seleção antes da CBF. A situação forçou a realização de um sorteio, que acabou definindo que a seleção brasileira usaria vermelho nos duelos contra as equipes. Com as novas cores, o Brasil foi goleado pelos uruguaios por 4 a 0, mas bateu os chilenos por 5 a 0, concluindo a competição em terceiro lugar.
E o que há por trás dessa mudança agora? Uma conspiração vermelha? Claro que não! O que move essa decisão é o bom e velho capitalismo. Marketing. Posicionamento global de marca. A Nike — ou melhor, a Jordan Brand, sua linha premium que estampará o novo uniforme — aposta em design arrojado para ampliar sua penetração entre consumidores jovens e em mercados cada vez mais competitivos. A ideia é criar produtos com apelo estético, capazes de furar a bolha do torcedor tradicional e virar objeto de desejo nas vitrines de Tóquio, Nova York, Paris — e não só em Copacabana.
É o mesmo modelo aplicado a outras seleções. A França lançou uniformes dourados. A Alemanha, camisas pretas. O Japão, laranja. Nenhuma dessas cores faz parte das respectivas bandeiras nacionais — são decisões comerciais, baseadas em análise de tendências, público-alvo e margem de lucro (a única exceção nesses novos modelos foi com a Nigéria, com um verde elétrico que virou febre mundial – cor predominante na sua bandeira). O uniforme virou, há muito tempo, mais que um símbolo nacional: é um produto de exportação.
O erro da Nike, nesse caso, não foi inovar — foi ignorar o caldeirão político em que o Brasil vive desde 2018. Lançar uma camisa vermelha é um erro grotesco, falta de sensibilidade e, até mesmo de conhecimento local. É miopia de mercado. Um tropeço no planejamento estratégico. Marketing sem leitura de contexto.
Mas mais grotesco ainda é ver a reação de setores que tratam a CBF como sucursal do Foro de São Paulo, como se os comunistas tivessem voltado das trevas, invadido o vestiário e obrigado o elenco a cantar a Internacional Comunista. O que existe aqui é um teatro da desinformação, uma tentativa cínica de transformar um uniforme esportivo em trincheira ideológica. Nada mais brasileiro do que politizar até a chuteira do lateral.
Se a camisa vermelha da Seleção é o ápice da “ameaça comunista” no Brasil, então é sinal de que nossos problemas reais — fome, desigualdade, corrupção, violência — já foram resolvidos. Spoiler: não foram.
Portanto, antes de queimar camisas e fazer vídeos indignados no TikTok, talvez valesse lembrar que o futebol, em sua essência, é expressão cultural, identidade plural e, sim, um produto global que se vende. Se há algo a criticar aqui, que seja a decisão apressada de uma gigante do esporte que pensou nos lucros, mas não no Brasil real.
Transformar tecido em terror ideológico? Isso diz mais sobre quem grita do que sobre quem veste.
Fonte: CLEMERSON SM É EDITOR E ANALISTA DE POLÍTICA DO
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